'Luz em agosto' se destaca por ser um marco fundamental da gloriosa década vivida por William Faulkner até 1939, quando lançou 'Palmeiras selvagens'. Romance de natureza polifônica, 'Luz em agosto' radicaliza alguns dos procedimentos característicos da prosa de Faulkner para apresentar três histórias aparentemente distintas, que terminam por se entrecruzar. O tempo da narrativa está sujeito a avanços e recuos, mas essa instabilidade temporal nunca obscurece nem torna hermético o que se conta, servindo antes para acrescentar traços à composição psicológica dos personagens e para desvendar camadas internas da trama em que são enredados. No centro da trama está Joe Christmas, um branco com sangue de negro, consumido pela falta de identidade, que reage com violência contra um mundo que o rejeita desde o seu nascimento. Igualmente à margem da sociedade, vagam criaturas como Lena Grove, uma adolescente órfã que percorre a duras penas o trajeto do Alabama ao Tennessee em busca do homem que a abandonou grávida. Sua chegada coincide com a descoberta do assassinato de Joanna Burden, de quem Christmas foi amante. Mas caberá ao reverendo Hightower funcionar como elo de ligação entre as narrativas. É num ambiente de fracasso, culpa, preconceito e fanatismo religioso que se debatem os personagens de 'Luz em agosto', todos em busca de seu lugar num mundo que reservou para eles apenas um destino trágico.