Este livro vem a somar com os diversos estudos sobre uma das regiões mais complexas da Amazônia Central, composta em quase sua totalidade espacial por Unidades de Conservação categorizadas como proteção integral ou parcial, por territorialidades pluriétnicas, por uma singular beleza cênica, mas, também, um campo de tensão de forças sociais. Em decorrência foi transformada e categorizada de Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro (MBRN) que faz parte do Corredor Ecológico e está inserida na Reserva da Biosfera da Amazônia Central.
Ainda, é uma região fortemente marcada por práticas econômicas extrativistas e pouco focada pelas políticas governamentais desenvolvimentistas. Conta com a presença de poderes e instâncias disciplinadoras, formando um mix de federal, estadual e municipal que convergem e divergem, ao mesmo tempo, nos objetivos de conservação das áreas protegidas.

Em tempos pretéritos o Baixo Rio Negro foi trajeto percorrido pelos naturalistas viajantes e serviu como campo para a produção antropológica, o que é hoje considerada por alguns como a “Antropologia do Rio Negro”. Nesse cenário pode-se inserir este livro em que as territorialidades humanas estão sendo conduzidas pelos agentes institucionais a incorporarem um novo paradigma de comportamento comunitário, como salienta a autora, em que o poder dita as regras como devem ou não se comportar em defesa da floresta em pé referenciadas e articuladas em esquemas mundiais em que, não raro, adotam-se situações que muitas vezes o componente ambiental se sobrepõe ao social.
Regula-se a vida dos moradores, chamados de comunitários; criam-se situações de constrangidos pelo controle e vigilância ambiental. Ao mesmo tempo, categorizam as famílias rurais a condição de guardiões da floresta, em que assumem a corresponsabilidade na conservação dos sistemas florestais que promovem a manutenção da vida na floresta. A gestão por corresponsabilidades ganha significado quando uma parcela significativa dessas famílias rurais assume em suas cotidianidades termos e valores passados por meio do discurso oficial, levando os trabalhadores e trabalhadoras rurais, às vezes, constrangidos, a conduzirem suas ações conforme o que é ou não permitido no âmbito de um projeto de gestão florestal que se pretende socialmente sustentável.