Um gênero muito importante para a história literária brasileira, o termo “crônica” vem do grego chronos, que significa tempo. Em uma narrativa histórica, ela segue uma ordem cronológica. Antes relacionada diretamente a essa característica, a crônica se modificou e passou a ser prosas feitas em pequenas produções, sempre instigadas por situações cotidianas e diárias. Ver a beleza, a poesia ou simplesmente ter uma visão diferente sobre acontecimentos são um talento exprimido com excelência por muitos cronistas, sendo que maior deles, no Brasil, Rubem Braga. Com uma dedicação profunda para a arte, Braga transitou entre pelas palavras literárias da crônica e tem diversas coletâneas no gênero, como a inédita 100 crônicas escolhidas, lançada pela Global Editora em setembro.

O livro tem 13 crônicas do autor que permaneciam até então inéditas, localizadas pelo selecionador em jornais e revistas para os quais o cronista colaborou ao longo de sua vida. Além disso, são são separadas por blocos e abordam assuntos distintos: sua paixão pela natureza (bichos e plantas), preocupação com questões ambientais, mudanças climáticas, problemas com o coração, o sentido da vida… suas narrativas abrangem uma quantidade considerável de tópicos, sendo que o que une todas elas é a visão única e extremamente sagaz de Braga.

Completamente consciente de si e do mundo ao seu redor, o autor costura um conhecimento profundo do que acontece na vida real com sentimentos que são íntimos e únicos, descrevendo os mesmos com uma precisão que é identificável para o leitor do começo ao fim. Em algumas crônicas, ele começa falando sobre a situação política e social do contexto que vivia na época (“os americanos entraram em contato com a lua, o que não deixa de ser emocionante…”), apenas para continuar falando sobre um aspecto simples – quase banal – da sua vida pessoal. Essa transição é algo complicado de se realizar, mas ele consegue ao relacionar aspectos da natureza, como sua primeira visita ao mar, com mudanças importantes da vida de uma pessoa, como amadurecimento.

Em outras situações, ele descreve sua rotina com uma gata que apareceu e fez da casa do autor o seu lar, e as vezes conta sobre a rotina do cachorro Zig. Com um humor esperto, Braga discorre sobre os animais com certo fascínio, contando situações que são peculiares e engraçadas. No final, no entanto, passa um sentimento agridoce, algo que faz das suas crônicas mais satisfatórias e até mesmo reais. Ele enxerga, como sempre, o que está além do óbvio, colocando sentimento e verdade nas palavras.