Muito já foi dito sobre a paixão e o inferno de ser torcedor de um time de futebol. Mas, se este time é o Vasco da Gama no ano de 2009, tentando se erguer da desonra máxima de um rebaixamento, e se este torcedor é o poeta Luis Maffei tentando, não se erguer, mas simplesmente se manter em pé durante esta outra desonra que chamamos de vida moderna, temos a conjunção improvável (mas produtiva) para a escrita de um livro. 38 círculos é, então, um livro sobre paixão e inferno, sobre futebol e vida moderna, sobre o Vasco da Gama e Luis Maffei, sobre um time (e seu estádio) que vira personagem de um livro e o poeta que vira personagem de si mesmo. É sobre paixão no sentido do afeto profundo por um time, por pessoas, por uma vida e história, e paixão no terrível sentido grego, o de sofrimento infernal por estas mesmas coisas. Não devemos esperar, como no caso de outras crônicas célebres sobre o inferno, ou ainda de outras, um pouco menos, sobre times de futebol, salvação ao fim deste périplo. Eis que não temos aqui final feliz, pois o que é um jogo senão a promessa de sua renovação daqui a pouco? – no que o futebol, aliás, não difere dos próprios dias. Ao fim do inferno há apenas a recompensa incerta de se continuar jogando. Ou vivendo.