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OBJETO
DE DESEJO
Diante de uma obra de estreia, assim como de uma casa, é melhor entrarmos logo. Até porque somos exilados, e a escrita, a nossa terra prometida. Não há por que ficar observando do lado de fora, só lá dentro é que vamos encontrar os prodígios ou as ausências.
Em À beira do lar, Luis Vassallo nos mostra o lado de lá dos lares, desvelando os tijolos da intimidade familiar. Cada conto, à semelhança de um quarto, tematiza com solidez os vínculos afetivos – alguns comuns, outros singulares –, por vezes com ternura, por vezes com crueldade. Assim, temos o quarto do casal em “Insônia”, o quarto dos avós em “Teto”, o quarto dos tios e primos em “Nós”, o quarto das brincadeiras (sérias) em “Com amor, até que pluft!”, o quarto das transgressões em “Outro sexo”, o quarto dos dejetos em “O banquete”, o quarto das tragédias em “Fora do ar”, e por aí vai.
São duas dezenas de contos curtos, cunhados por um jovem escritor cuja voz já se distingue do alarido geral. Não espere conforto nestas páginas, nem o fogo aconchegante da lareira em frente à qual famílias se reúnem para recordar histórias. Aqui não temos azulejos e ladrilhos, mas paredes nuas e chão de terra batida. Nada de janelas abertas, só o olho-mágico, a fresta, o buraco da fechadura. Cerca de flores? Não, muro de cacos de vidro. Uma casa com varal de arame farpado, lembranças em tintas esmaecidas, sentimentos descascando por todos os cantos. Uma casa, como diz o narrador de “Desconstrução”, que “só a memória pode manter de pé”. A memória que nem sempre sabe se estamos chegando ou partindo.
Neste “lar” que Vassallo arquitetou, vamos passando em cada um dos cômodos, ansiosos por abrir a última porta. E, aí, sim, não estaremos mais à beira, mas por dentro de uma literatura que promete ir além. (João Carrascoza)
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