A Era Dourada é o sétimo e último livro da série em que Gore Vidal relata a ascensão do império americano. Mestre do romance histórico, o escritor faz uma crônica do período entre 1939 e 1954 – com um rápido salto, ao final, para a virada do milênio. Da véspera da Segunda Guerra Mundial ao fim da Guerra da Coréia, o leitor acompanha a vida política e cultural nos Estados Unidos sob o ponto de vista dos habitantes de Washington, D.C., "uma cidadezinha rústica que se tornou capital do mundo". Personagens e fatos históricos são apresentados a partir dos testemunhos argutos de dois protagonistas fictícios: Caroline Sanford, atriz, editora de um jornal, amiga íntima do casal Roosevelt; e seu sobrinho Peter Sanford, editor da revista independente O Ideal Americano.
Vidal reconstrói não só os eventos reconhecidos pela História oficial, como também informações da "central de boatos de Washington" – muitas delas verdadeiras e na época omitidas do público. É o caso do bombardeio de Pearl Harbor. Ele conta como o presidente Franklin Roosevelt, por conveniência política, decidiu provocar os japoneses para que eles atacassem primeiro. Assim, conseguiu apoio do povo americano para levar os EUA à guerra.
Alianças matrimoniais, manobras eleitoreiras, adultérios e fofocas de salão se alternam com eventos marcantes, como as conferências de Yalta e Potsdam e o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki. A época é de promessas de prosperidade e feroz campanha anticomunista. O senador McCarthy lidera a perseguição aos chamados subversivos. O cinema ganha força como arma ideológica e a televisão dá os primeiros passos. Fugitivos da Europa trazem inovações à música, à dança, ao teatro e às ciências.
Um aspecto inusitado deste livro é que o autor é também personagem. Neto de senador, Gore Vidal cresceu imerso no ambiente político, o que deu a oportunidade de conhecer muitas das pessoas citadas. No capítulo final, ele emprega a metalinguagem para travar um surpreendente diálogo com suas criações.
Enquanto expõe frivolidades da classe dominante e o provincianismo de Washington, A Era Dourada dá uma aula sobre a origem da corrida armamentista. Crítico mordaz do expansionismo americano, Vidal desvenda os bastidores da política de "guerra em tempo integral", criada para favorecer os interesses do complexo industrial-militar e das grandes corporações. Ele descreve com fina ironia a estratégia de demonização dos adversários, até hoje em prática: depois do fim da União Soviética, a missão dos EUA passou a ser "salvar o mundo das drogas e do terrorismo".
A obra é também uma reflexão sobre a natureza humana e a inexorável passagem do tempo. Por mais significativa que a ascensão de um império seja para os envolvidos, ela é apenas um movimento microscópico no universo em permanente mutação. Fica no ar a provocativa pergunta do autor: "Será que no futuro os Estados Unidos serão lembrados?"