Ninguém iria imaginar que uma combinação de cetim e renda fosse parar em uma pista de dança e não causaria espanto. Muito menos que os trajes étnicos fossem transformados em peças cult, redesenhados pelos mestres do estilismo. Atrás de exemplos como esses, existe ao longo da história uma pluralidade de modismos e manias, na verdade todo um código e uma simbologia, que se traduzem por uma linguagem não verbal: a das roupas.
A historiadora inglesa especializada em folclore e literatura infantil, Alison Lurie, enveredou pelos caminhos da moda e conseguiu ter êxito. Alison Lurie – radicada nos Estados Unidos – conseguiu com o seu fascinante livro A linguagem das roupas identificar os sentidos que se escondem – ou se expõem – através de uma blusa transparente, de uma barba grisalha, da paixão pela cor preta, das peças clonadas aos milhares etc. Com um poder de sedução incrível, Miss Lurie faz um passeio através da história, sem ter a preocupação de começar com a folha de parreira e terminar via satélite. E, por meio desse inusitado tour, a autora vai tecendo e mostrando a gramática de panos e cores, a acentuação de estilos e detalhes, a conjugação do masculino e do feminino, a concordância da juventude e da velhice, os singulares e plurais da sexualidade, os sotaques regionais.
A linguagem das roupas é um trabalho ímpar, que não requer um carimbo classificatório. Claro que a moda indumentária é a grande estrela, mas em seus caminhos a autora percorre história, estética, psicologia, ética, artes plásticas, sociologia, comportamento, economia, literatura e outras ciências mais ou menos exatas, na medida em que as roupas exigem. Com estilo leve, sem perder a profundidade de cada observação. Com referências preciosas e inumeráveis, A linguagem das roupas tem licença para figurar com destaque em todas as estantes, do estudante de moda ao mais exigente intelectual, do jornalista aos diversos formadores de opinião, do estilista a freqüentadores das colunas sociais, do historiador diletante aos psicanalistas, do ator ao cenógrafo, da feminista pós-moderna às garotas liberadas.
Com esta obra, ficará fácil aprender as teorias do sociólogo Thorsten Veblen, sobre a clássica trilogia das Leis do Consumo, Desperdício e Ócio Conspícuo. E entender, entre outras coisas, por que o luxo explícito é tão forte nas épocas de crise, por que existem roupas consideradas neuróticas, por que as etiquetas ostentatórias provocam frissons em boa parte dos consumidores.
A reflexão a que A linguagem das roupas conduz é múltipla e atraente como tudo aquilo que diz respeito ao binômio indivíduo & indumentária. Como a frase final do livro: "Podemos mentir na linguagem das roupas ou tentar dizer a verdade: porém, a menos que estejamos nus ou sejamos carecas, é impossível ficarmos em silêncio."