Este livro traduz a convicção de que a obra musical de Eurípedes é o referencial musical para a compreensão de um período-chave da música grega, o séc. V a.C., na medida em que nele se espelham inovações no âmbito da música e, também, por ser com base na obra desse autor que se desenvolvem teorizações musicais de outros vultos da cultura grega. Entre os seus contemporâneos, Eurípedes foi considerado um inovador, nomeadamente por Aristófanes, que lhe teceu críticas nas suas comédias relativamente às suas inovações harmónicas e rítmicas. Mas o que chegou até nós, além de alguns fragmentos musicais, foram os próprios textos, e esses atestam como a língua foi modelada para ser objeto de encenação, já que era na própria expressão verbal que radicava a melodia: no som vocálico e no ritmo que emerge na sucessão silábica. Ao abordar este tema, o autor dialoga com os textos das tragédias e encontra neles abundantes indicações sobre melodia, ritmo, dança, instrumentos e conceções de formação musical. A mousiké em Eurípedes radica em todos esses aspetos. São ainda abordados outros temas, como a complexa relação entre música e poesia, a conciliação pelo intérprete entre virtuosidade e formação estética e a questão da ligação do compositor com a linguagem e as técnicas do seu tempo.