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OBJETO
DE DESEJO
Em 1970, Antoni Tàpies (n. 1923), na Introdução desta recolha de textos, enuncia de forma muito clara uma orientação artística, portanto cultural, política.
Na esteira de uma longa prática europeia de escritos teóricos sobre arte mas querendo-se distante de um pendor programático -- Herdeiro e ainda protagonista de uma época em que tudo está em crise, eu continuo a acreditar que o mais aceitável dos sistemas é não ter, por princípio, nenhum --, aquele que é hoje um dos mais respeitados artistas plásticos do século XX delimita inequivocamente o que considera ser o seu território, recusando as estéticas «dos que julgam que hoje tem tanta importância um Guernica como um cartaz a anunciar umas calças». Essa rejeição feroz parece ser uma componente da velha aversão dos artistas à estética, porque «há estéticas que prejudicam não só a arte como toda a sociedade», se entendidas como função dos valores morais e políticos: quando digo que há ideias estéticas prejudiciais, quero dizer que elas encerram uma política e uma moral que são igualmente um mal para a sociedade.
Parte da pertinência desta publicação está na sua impressionante actualidade e na acutilância das reflexões implícitas:
[…] a configuração da expressão artística está intimamente ligada ao problema da liberdade da ‘sua’ leitura: ao facto de simplesmente se permitir que as pessoas possam ler. Faz parte, por isso, do problema mais geral da alfabetização do país, da necessidade de continuar a lutar, num nível diferente, contra aquilo que mantém o atraso de toda uma política cultural, em suma, da política.(…)
[…] eu serei sempre contrário a qualquer ponto de vista que nos fale de uma qualquer espécie de descida de linguagem para nos aproximarmos da compreensão do povo. É o povo que tem que subir até nós. E é uma coisa de todos nós essa luta para lhe serem dados os meios necessários para levar a bom termo essa ascensão.
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