Um Tratado sobre o crime organizado e sua força
Alcir Santos de Oliveira
Um livro simplesmente perturbador. Para os que o lerem e ignoram como funcionam as sociedades modernas, pode significar a perda da inocência. Afinal, não há como ignorar a estranha realidade da existência de um Estado dentro do Estado. Para quem leu McMafia, do inglês Misha Glenny, ou alguns dos livros do italiano Roberto Saviano, esse fenômeno não causa surpresa. Aqui, assim como em boa parte dos países da Terra, as organizações criminosas, algumas transnacionais, estão presentes no dia a dia de milhões de pessoas as quais, na maioria das vezes, sequer desconfiam que estejam negociando, ou simplesmente utilizando serviços bancados pelo Estado paralelo, pelo crime. Esse poderio explica porque muitos países têm os seus governos mancomunados com o crime, quando não são os seus próprios representantes que ocupam cargos estratégicos na máquina estatal.
Nesse sentido, o República das Milícias acaba sendo um tratado sobre as organizações criminosas no Brasil, desde seu surgimento, há dezenas de anos atrás até sua consolidação, nos dias que correm. E não há como escapar disso. Pelo menos a curto e médio prazo não é possível prever alguma mudança no estado de coisas aí instalado. Não creio que possam ser eliminadas. Na hipótese de que algum governo, aqui ou alhures, venha a fazer um expurgo nos seus quadros, é quase cerro que não conseguiria eliminar o crime já estruturado e solidificado. No máximo haveria uma troca de nomes. É sim, a realidade do mundo atual em países importantes e também nos demais. Uma grande diferença é que, aqui, os grupos vivem se matando, brigando por espaços à base de confrontos armados. Noutros países essa fase já passou. Os grupos simplesmente decidiram partilhar as áreas e cada um que cuide da sua.
Além disso, vale a leitura para quem quiser saber como surgiram, lá atrás, ainda na segunda metade do século passado. E fica a pergunta incômoda no ar? Por que o Estado não oficializa atividades ditas criminosas como jogo do bicho e tráfico de drogas, passando a cobrar pesados impostos que reverteriam em benefício da sociedade? A resposta é única: Não interessa. Se liberados, muitos perderiam suas fontes de ótimos rendimentos.
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