A tese de A retórica de Rousseau é composta por uma tríade explicativa: teoria da linguagem, teoria do romance e teoria do teatro.

Este livro traz um ensaio inédito do filósofo Bento Prado Jr., escrito em seu exílio na França entre 1969 e 1974, e traduzido pela primeira vez para o português a partir dos originais em francês. Além desse texto, que permaneceu quase 30 anos guardado, o volume reúne oito ensaios do autor publicados em jornais e revistas brasileiros sobre o mesmo tema, a obra do filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Para Bento Prado Jr., Rousseau erige seu modo de pensar adaptando o formato aos interesses do leitor: das ciências à autobiografia, da filosofia ao direito, do romance ao teatro e à música. Reside nesta multiplicidade a relevância de A retórica de Rousseau e outros ensaios, lançamento da Editora Unesp.

“Este livro pode ser lido de duas maneiras: uma, mais evidente, como interpretação unitária da obra de J.-J. Rousseau na perspectiva da relação entre retórica e verdade; outra, mais geral, como reflexão ensaística sobre a linguagem nos registros comuns aos discursos da literatura e da filosofia”, escreve Thomaz Kawauche nas orelhas do livro.

Ao longo dos oitos capítulos, divididos em quatro segmentos, o autor resume a questão aos seguintes termos: “À utopia da gramática – quer dizer, a uma concepção da linguagem que ignora todo lugar, geográfico ou histórico, norte e sul, antiguidade e modernidade, em sua vontade de universalidade – a linguística de Rousseau opõe uma topologia que procura sobretudo as diferenças de lugar, no espaço e no tempo, mas também no interior de uma mesma sociedade [...].”

“Bento Prado Jr. sempre fazia questão de deixar às claras o lugar de onde falava ou escrevia e, certamente por isso, começa pelas ‘metamorfoses’ da obra de Rousseau, por uma história de suas leituras, situando nela seu próprio discurso”, anota Franklin Mattos no prefácio. “E, assim, é como se Bento Prado nos convidasse a regressar à cena original da metafísica a fim de melhor apreciar aquilo que ela recalca. A meu ver, tudo se passa como se a questão pudesse ser assim formulada: será que os Filósofos e Rousseau não voltam a encenar, em pleno século XVIII, o drama inaugural da filosofia, no qual duelaram Platão e o sofista?”.