A Vingança do Mascarado, uma antologia de Jean Lorrain com 14 contos, organizada e traduzida por Marcus Salgado, revela as facetas múltiplas desse contista, cuja obra é um dos elos perdidos entre o romantismo negro e a escrita transgressiva de Jean Genet e William Burroughs. A belle époque parece cristalizar-se na escrita de Lorrain, com seus salons atravancados de bibelôs e exotismos, seus vícios elegantes, suas hospedarias assombradas (parte das lendas urbanas em circulação no final do século XIX) e seus espaços sempre claustrofóbicos, como que pressentindo o achatamento do homem à condição bidimensional. Com assassinos, vampiresas, histéricas, lésbicas, sodomitas, necrófilos, bebedores de éter, morfinômanos, opiômanos e literatos ávidos por sensações raras, Jean Lorrain constrói sua obra que é, à maneira de Ensor (a quem tanto apreciava), um “salão de máscaras” onde o odor de putrefação se mistura ao exotismo e ao insólito.