Gabriela Malzyner nos presenteia em sua obra com três casos atendidos em seu consultório, contando como pode estabelecer um canal de comunicação com cada uma de suas pacientes por meio de desenhos, fotos, filmes e histórias infantis. Com Edna, as fantasias de “ganhar peso e ser devorada” foram trabalhadas com a história de João e Maria. O desejo de ser adotada, de Vanessa, foi colocado em cena com a conversa sobre o filme Precisamos falar sobre Kevin. E Sarah, debruçada sobre as suas fotos sensuais com sua analista, tal como mãe e filha frente ao espelho, conseguiu estabelecer um novo olhar sobre a sua própria imagem.

A autora mostra como é possível escrever sobre o tema de forma simples, agradável e direta, sem perder o rigor e a profundidade. Corajosa, mostra seu trabalho clínico original, com a virtude de não cair no “achismo”, tendo como suporte autores consagrados dentro da psicanálise. Apesar do vigor dos esforços empreendidos, dentro e fora do âmbito psicanalítico, a abordagem teórico-clínica da anorexia e da bulimia continua sendo um desafio. Não resta dúvida que a abordagem psicanalítica desses quadros clínicos evoluiu muito, sobretudo nos últimos 20 anos, ao levar em conta as resistências à mudança e os impasses observados durante as psicoterapias desses casos. Gabriela Malzyner aceita esse desafio, colocado a partir da sua prática clínica cotidiana, e apresenta neste livro uma rigorosa reflexão que visa problematizar o trabalho do psicanalista diante da complexidade da anorexia e da bulimia. A partir da discussão de três casos clínicos, a autora enfatiza a função de proteção desses sintomas, verdadeiras estratégias de sobrevivência psíquica. Além disso, salienta ainda utilidade do uso de materiais gráficos, desenhos, fotos, filmes, histórias infantis, que podem funcionar nessa clínica exatamente como o brinquedo funciona na clínica de crianças. O leitor encontrará aqui uma importante contribuição a respeito das vicissitudes do manejo transferencial nesses casos e também um vivo testemunho da necessidade de diálogo do psicanalista com os demais profissionais que compõem as equipes multidisciplinares e, muitas vezes, da necessidade de rever, caso a caso, o próprio enquadre psicanalítico.