A concentração da riqueza no Brasil sempre foi tão gritante que o caminho histórico seguido pelo país refletiu vivamente essa característica essencial. Assim, mesmo com a industrialização, a urbanização e o surgimento de novos grupos sociais, a capacidade dos mais ricos manterem seu status compôs um quadro de surpreendente estabilidade na estrutura social e de poder. O Brasil, em síntese, não sabe o que é democratização da propriedade, pois somente escassos 6% de toda a população responde pela posse dos meios de produção nacionais. Diante disso, apesar das transformações vividas pela economia brasileira a partir da década de 1990, o grupo dos grandes proprietários manteve seus privilégios e poder, mudando, às vezes, apenas a forma de posse e apropriação da riqueza. este volume mostra, por exemplo, que, na verdade, os grandes proprietários brasileiros já não fazem exclusivamente da terra, do comércio e da indústria seus maiores ativos. Agora, e de modo crescente, guardam suas posses na forma dos direitos de riqueza (títulos), expressão do processo de financeirização de ativos. Ou seja, cada vez mais, a riqueza importante é de papel enquanto o capital mundial, também ele financeirização, toma conta das tradicionais formas de propriedade no país. Por tudo isso, este terceiro volume procura explicar alguns porquês e revelar uma face social pouco discutida nos circuitos de informações e debates: o atual arranjo social brasileiro permite e conduz, mais uma vez, a continuidade das incríveis desigualdades regional e social da renda e, também, de poder.