A épica homérica continua desafiando artistas, pesquisadores e público em geral. Especialmente na Ilíada, temos grandes cenas de guerra atravessadas por momentos de conflitos individuais e confrontos face a face. Entre o macro e o micro, entre o mundo dos deuses e dos homens, ouve-se uma voz, um som que nos projeta para além de nós mesmos: é a voz do rapsodo, em seu trabalho multissensorial. Neste livro o fascínio por essa dramaturgia ampla é discutido a partir do encontro entre Estudos Clássicos, Estudos do Som e Performance. Tal intercruzamento de fronteiras procura clarificar a dimensão plural da atividade do rapsodo na produção de suas audiocenas, ou eventos interativos imaginativos sonoramente orientados. Após uma detida análise dessa atividade registrada na épica homérica, apresenta-se o experimento narrativo de Heliodoro, que, em As Etiópicas, procura competir com todas as obras da tradição clássica, produzindo uma fusão experimental de gêneros. Esta releitura de Homero e da tradição clássica impulsionou diversos artistas, tais como Cervantes, Shakespeare e Verdi. Enfim, nos passos de Homero caminhamos.