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OBJETO
DE DESEJO
Carmen será o nome da mãe, ou será a materialidade do poema que Moisés Nascimento evoca em seu canto à ancestralidade e aos antigos? Ou só existiria a poesia porque a mãe impregnou pelos laços, no poeta, o material impreciso que atravessa os olhos de ver e sentir? No xirê de abertura de seu trabalho ora publicado, o panteão dos Orixás se presentifica em pedido, agô, em clemência de licença, para que a pele e a imagem dessa dança sejam autorizadas na pena e no papel dessa poesia em chegança.
A chamada dos santos convida para o paó de reverências, assenta o leitor na casa poética de Moisés, feita de travessias afetivas entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, entre cercas e fronteiras. No percurso, o eco da memória e a paisagem que, migrantes como o poeta, secretam as imagens cintilantes que só o sensível pode capturar: entre passar café/ vigiar a janela/ perdi tempo de/ ver-te/ na costumeira pressa /de não ficar/ fora/ dos dez segundos/ que definem/ a travessia/ de um lado/ para o outro. Aqui a poesia encontra passagens, brechas para ser movimento, tarefa “necessária para que se transporte/ para o outro ângulo/ de uma mesma visão da rotina” ou dos causos, e enfrenta a cristalização e a facilitação do neofascismo à brasileira que, sabidamente, promove o brutalismo e o horror onde “a polícia não perdoa”. Nesta obra, ao contrário das políticas de aniquilação, encontra-se um trabalho tributário da delicadeza das imagens, da inefabilidade dos encantados e dos enigmas do feminino, uma vez que esta escrita carrega as narrativas de si e dos seus: “eram bonitas eram/ no mínimo/ nossas/ as manhãs tardes noites/ dos dias de Niterói”.
[Tatiana Pequeno]
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