Relato realista, até cruel, mas aquém de um Nobel
Francisco
O retrato do autor - o primeiro autor russo a receber o Prêmio Nobel de literatura, o que, antes, reflete, um descompasso (talvez cronológico) entre o Nobel de literatura e a própria literatura (bastam os exemplos de Tolstoi e Tchecov, entre tantos outros, talvez anteriores à existência do prêmio em si) é basicamente documental. Não sou um leitor com fluência em russo, tendo de me valer de traduções, portanto, é difícil avaliar o estilo do autor, que Boris Schnaiderman, este sim um expert, qualificou de impecável no sentido da literatura russa clássica. Este livro específico foi redigido sob ameaça permanente de confisco do manuscrito e assassinato do autor, o que, provavelmente, explica não apenas seu caráter fragmentário, mas seu estilo, que, ao menos em português, soa como mal acabado. Basta ler os contos de Sebastopol de Tolstoi, redigidos em meio a uma guerra feroz, para perceber a diferença. Talvez o autor tenha optado pela crueza em detrimento do acabamento, mas, ainda assim seu relato é bastante menos vívido do que os ensaios do também nobelizado Brodsky sobre suas próprias agruras (que li na coletânea "Less than One").
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