Uma ênfase na noção de superfície, partindo da célebre frase de Paul Valéry (1871-1945), bem como uma reunião de temporalidades distintas, são ideias caras à produção de Thiago Honório e que podem ser percebidas em trabalhos do artista como Documents[2] (2012), Prêt-à-porter[3] (2013) ou Penca[4] (2014), por exemplo. Nota-se, claramente, os procedimentos de coleção, apropriação, corte, montagem, seriação, edição, triagem e montagem nesses trabalhos a despeito de diferentes linguagens. Tais noções também podem ser compreendidas no conjunto da produção do artista como elementos recorrentes nela, apresentando-se deste ou daquele modo, neste ou naquele trabalho, adquirindo esta ou aquela fisionomia, por assim dizer, não abrindo mão de um livre trânsito entre as linguagens.
{ [ ( ) ] } – entre chaves, colchetes e parênteses – não deixa de acentuar um trânsito entre dentro e fora, entre aquilo que se guarda ou se perde para sempre. O arranjo também pode ser entendido como uma “pintura” revelada pela variedade de cores e de superfícies que revestem o interior e o exterior desses estojos, caixas e mostruários. São superfícies diversas: papel, madeira, metal, couro, camurça, cetim, linho, veludo e seda de variadas estampas e cores: azuis, violetas, púrpuras, laranjas, verdes, entre outras.
O livro-obra { [ ( ) ] } apresenta, então, a partir de suas dobras e vincos, uma espécie de jogo de alternâncias e contrastes sucessivos entre superfícies gastas e novas, que também revelam, pelas suas cavidades, baixos-relevos e reentrâncias, um vazio: a ausência do objeto. Este projeto pode ser compreendido, ainda, como um desdobramento, no sentido mais estrito do termo, de trabalhos anteriormente realizados pelo artista.
Como se sabe, há muito o livro tomado como lócus de produção de uma outra experiência espaço-temporal tem sido explorado por diversos artistas. O livro-obra { [ ( ) ] } retomará essas questões a partir de uma reunião de temporalidades distintas – um mostruário vazio de 1840, por exemplo, convivendo ao lado de outro de 2015 – que ele traz em seu corpo, convocando-as a um debate.