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OBJETO
DE DESEJO
Lançado originalmente em 1957, FALA, AMENDOEIRA reúne as crônicas que Carlos Drummond de Andrade escreveu para o jornal Correio da Manhã. O livro foi muito bem recebido pelo público e crítica em geral, sendo elogiado por Rubem Braga, maior mestre do gênero na literatura brasileira, que o considerou uma espécie de “novela ou pequeno romance de costumes”, tal a unidade íntima alcançada pela excelente seleção dos textos.
As crônicas que compõem FALA, AMENDOEIRA podem ser definidas como as observações de um poeta no mundo, para quem a realidade só pode ser encontrada a partir da eliminação das aparências e da superficialidade. Partindo de temas e situações aparentemente banais e corriqueiras, Drummond consegue elaborar alusões capazes de proporcionar ao leitor verdadeiros insights sobre o cotidiano. Elas refletem o amadurecimento de um autor que chegava à meia-idade consciente de sua condição de desajustado natural – de gauche na vida –, de homem que, precisamente por trazer consigo uma sina de explorador da alma humana, sente mais do que o homem comum a explicação e o mistério da vida interior, e suas manifestações na exterior. Como a própria amendoeira do título assevera ao escritor, o outono é mais estação da alma do que da natureza.
Agrupadas em dez diferentes temas – mentiras, lugares, costumes, problemas, datas, letras, bichos, meninos, despedidas e situações – as crônicas reunidas mantêm uma unidade entre os assuntos abordados que reafirmam a qualidade literária dos textos, libertando-os de sua condição circunstancial pelo estilo e individualidade do autor. Nas crônicas dedicadas às despedidas, Drummond traça tocantes perfis de amigos que morreram no período abrangido, tais como Oswald de Andrade, Jaime Ovalle e Roquette Pinto. Nos textos dedicados às letras ele enfoca o mundo das letras com um olhar entre o irônico e o lírico, mas de um lirismo policiado.
Trabalhando com uma prosa simples, muito ao gosto do bom leitor, mas na qual transparece um total domínio do estilo e do efeito buscado, Carlos Drummond de Andrade também busca matéria no seu dia-a-dia e nos problemas da cidade, tais como o pagamento de uma multa à prefeitura, a morte de um filhote de elefante em um circo do Leblon ou a falta d’água, imprimido sua particular visão de mundo.
A reedição de FALA, AMENDOEIRA no contexto do centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade serve para reafirmar a permanência de suas crônicas como sendo das melhores em nossa literatura. São textos que jamais poderão ser dissociados da produção poética do autor, pois ambos vêm de um mesmo olhar. Com efeito, apreende-se do diálogo com a amendoeira que as crônicas reunidas nesse volume são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva.
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