A produção acadêmica recente tem levantado problemas históricos e legais do ensino da filosofia no Brasil. Uma questão, porém, estava esquecida: como os estudantes da educação básica recebem as aulas de filosofia? Este belo livro de Cláudia Cisiane Benetti vem preencher essa lacuna. A autora pesquisou, em três escolas de Porto Alegre, a recepção dos estudantes em relação à disciplina Filosofia. Neste livro, aspectos deste contato aparecem materializados nos "blocos de cartas" que a autora analisa: exercícios de escrita dos estudantes nos quais procuram argumentar para um amigo sobre as dificuldades e "delícias" de se estudar filosofia. E fica explícita uma relação paradoxal dos estudantes com a filosofia, que joga por terra a idéia presente nos livros didáticos para essa disciplina - e também em boa parte da produção teórica sobre ensino de filosofia - de que haveria uma "predisposição natural" dos jovens para aprender filosofia. Para tratar dessa questão, a autora se vale de um outro paradoxo: a contribuição de autores tão díspares quanto o filósofo Gilles Deleuze e o psicanalista Jacques Lacan, extraindo, de cada um, a potencialidade de um pensamento novo, criativo, irreverente e independente. Dar voz aos estudantes para, a partir deles, buscar no ensino da filosofia na educação média as potencialidades da singularidade e da diferença. Eis o diferencial deste livro, que chega a nós como um sopro de ar fresco, um desafio ao pensamento criativo e a uma prática singular no cotidiano de nossas salas de aula. (Extratos da apresentação de Sílvio Gallo).