O título já diz muito. Se o livro se chama Guia de caça e pesca para mulheres mas não está na seção de auto-ajuda, só pode ser uma ironia. E é. Uma fina ironia sobre as fórmulas prontas de como uma mulher deve se portar para ser cortejada e casar. Mas que não garante nenhum verdadeiro amor. Neste livro, a autora Melissa Bank brinca com a febre da auto-ajuda como mais um elemento da vida contemporânea que faz a mulher pensar o que é certo fazer, como deve agir para ser amada de verdade.

Em Guia de caça e pesca para mulheres, esta mulher é Jane Rosenal, que narra episódios desde sua vida de adolescente, ela que com 14 anos achava que a mulher do irmão mais velho lia demais e acabou se tornando uma editora. Além dos tropeços nessa busca pelo amor verdadeiro, as dificuldades com o trabalho, com os chefes e as frustrações profissionais também são contados ao leitor, como numa conversa franca. Jane mostra sua necessidade de aprovação, as dificuldades de lidar com a doença e a morte e as intrincadas relações familiares.

Mas são os (des)encontros amorosos, o ciúme, os problemas com o sexo e a insegurança e a decepção afetivas que conduzem Jane na narrativa de sua vida em seis momentos diferentes, apenas entremeados por um episódio em que os protagonistas são outros -- e que só vêm reforçar que Jane é, mais que tudo, comum. Não uma mulher como qualquer outra, pois suas singularidades são pontuadas pela autora com maestria. Ela é alguém que está sujeito, como todos nós, às amarguras da vida.

Mas apesar da tristeza e melancolia que perpassa alguns episódios, Melissa Bank consegue magistralmente usar o humor que está no título e que perpassa todo o Guia de caça e pesca para mulheres. E ela dá esse humor para sua protagonista, que tem como uma das características mais marcantes suas tiradas engraçadas. A autora quebra uma das regras do guia de auto-ajuda que em certo momento Jane compra com constrangimento, a regra que diz que o humor não é feminino. Na escrita de Melissa Bank, o humor é feminino e delicadíssimo, uma arma nada brutal para ultrapassar os percalços inevitáveis da vida.

O leitor fecha o livro com a certeza de que Jane é uma mulher inteligente e bela, mas que, felizmente, não segue o guia da caça e da pesca e é única, apesar de viver problemas comuns a todas as mulheres nos dias de hoje. Jane quer continuar caçando e pescando, mas descobriu que tem que ser do seu jeito, mesmo que lhe custe tantos desacertos. No fim das contas, o importante não é se ela achou ou não o tal amor que, como ela se pergunta, não sabe "se existe por aí", e sim sua trajetória que a leva a entender que não há modo correto de fazê-lo.