Geralmente, os fenômenos paranormais escapam à razão e à ciência, porque não se adaptam aos conceitos a que estamos habituados. Nós os rejeitamos, não porque são fenômenos contrários à natureza, mas porque negam a representação que fazemos dela. Mas a eliminação da magia acabou por dar um caráter mágico à ciência, sua desmitificação transformou-se, ela própria, numa mitologia. Ao presenciar os fenômenos aparentemente inexplicáveis realizados pelo paranormal Thomas Green Morton, o prestigiado intelectual Muniz Sodré teve que questionar os seguros paradigmas acadêmicos. Ao enfrentar uma temática perigosamente próxima do misticismo, Muniz Sodré realiza uma espécie de antropologia do imaginário, elevando a magia a objeto de estudo.
Tratados de alquimia, estudos de paranormalidade, descobertas da física quântica, Paracelso, Newton, Schopenhauer, Nietzsche, Freud, Jung, Lévi-Strauss, Wittgenstein, Henri Bergson são invocados para raciocinar sobre questões irracionais. No final do século 20, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, um homem é capaz de realizar todos os fenômenos extraordinários já descritos pelos yogues, xamãs, monges tibetanos, santos, videntes e alquimistas.
Ressureição de pequenos animais, projeção de formas humanas artificiais, transmutação de metal em ouro, desaparecimento de objetos, reconstituição imediata de ossos fraturados, processos telepáticos, teletransporte pessoal, o dom da cura, a descrição dos poderes de TGM enchem páginas e mais páginas escritas por um autor absolutamente idôneo. Ao publicar Jogos extremos do espírito, Muniz Sodré coloca em risco seu status no meio acadêmico brasileiro, ao mesmo tempo em que aproxima as ciências sociais do mundo em que vivemos. E coloca uma questão: como tentar manter a objetividade científica diante de fatos que, cientificamente, são improváveis: os fenômenos mágicos?