O conjunto de ensaios do crítico literário italiano Antonio Prete reunidos neste livro foi concebido e organizado especialmente para o leitor brasileiro. Neste "Leopardi. O pensamento em poesia" o autor revisita algumas das etapas do caminho que por muitos anos percorreu através da obra de um dos maiores expoentes da literatura italiana e universal, Giacomo Leopardi [1798-1837], segundo uma perspectiva exegética em que procura ver na mesma esfera de tensão inventiva e reflexiva o verso e a busca filosófica, o canto e a narração teórica.

A experiência poética, para Leopardi, é atravessada por uma teoria que a filosofia frequentemente evitou, disciplinando-a na lógica da não contradição, na região do conhecimento possível, da paixão governável, do método certo. E, por outro lado, a experiência filosófica é balançada pelo vento da poesia, de modo que, nos momentos altos, o poeta e o filósofo estão próximos, ou são a mesma pessoa, ou têm o mesmo olhar: um olhar que sabe explorar e conhecer “o íntimo e o inteiro das coisas”. Leopardi chama essa postura de “ultrafilosofia”: o ponto de máxima proximidade entre filosofia e poesia, diríamos. O pensamento poetante não é só uma modalidade de conhecimento, é também um modo de ser da escrita: jamais congelada pelo encanto da forma e jamais tomada pela pura necessidade discursiva.

O pensamento poetante e a ultrafilosofia. A partir dessas definições Antonio Prete revisita os conceitos ligados à criação artística do escritor italiano Giacomo Leopardi. No Zibaldone di pensieri, Leopardi desenvolveu reflexões que se revelam em uma forma de filosofia criadora, a qual o autor deste livro desvenda a seus leitores, mostrando a relação do escritor com a vida, a natureza, os desejos, entre outros assuntos, assim como o valor que adquire, para ele, a linguagem como escrita poética e pensamento filosófico sobre as origens e o desenvolvimento da poesia. Aquela poesia que com Homero, Leopardi afirma, chegou a seu ápice, não podendo mais se aperfeiçoar devido ao afastamento entre homem e natureza provocado pela civilização [ou razão]. Ao poeta não resta senão admirar aquela poesia e reaprender a relação com a natureza, redescobrir a sensibilidade que já foi dos antigos e que existe nas crianças. Antonio Prete, no ciclo de ensaios apresentados neste volume, reconstrói um percurso leopardiano que começa com “Uma antropologia poética” e termina com “O pensamento da poesia no Zibaldone”, passando por uma original análise do poema “O infinito”, por reflexões sobre os conceitos de natureza e amor e sobre a forma do ensaio na escrita do Zibaldone. Este livro contém, sem dúvida, uma relevante contribuição teórica sobre a obra leopardiana, e esta tradução ao português constitui para o público lusófono um portal de acesso fundamental para a compreensão de um Leopardi poeta e pensador, com toda originalidade e potencialidade interpretativa que sua obra representa. Em Leopardi é ressaltada a visão de um gênio que, a partir da sua formação “clássica”, e revelando a sua singular personalidade que o afasta do espírito prevalentemente romântico do seu século [XIX], desenvolve um sistema poético-filosófico que não para de surpreender por sua atualidade, e que Antonio Prete demonstra de maneira sensível e iluminada.