Literatura, pão e poesia é o mais novo livro de Sérgio Vaz — poeta, agita-dor cultural, e agora também escritor de textos em prosa —, levado às livrarias com o selo da Global Editora.
O autor é o idealizador e grande fomentador da Cooperifa, Cooperativa Cultural da Periferia, um sarau que reúne mais de cem pessoas em dias de fraca audiência, sempre às quartas-feiras, no bar do Zé Batidão, em Piraporinha, um bair-ro periférico da Zona Sul de São Paulo. Ali, o inquieto Sérgio Vaz mostra sua meto-dologia de estímulo à leitura e ao exercício da fala, para pessoas simples, como as muitas Marias e os muitos Josés que frequentam as reuniões.
A energia da Cooperifa e de Sérgio Vaz gerou frutos, e nos moldes do sarau realizado em Piraporinha exis-tem muitos outros, que acontecem em comunidades instaladas em cidades da Grande São Paulo, como Itapecerica da Serra, Embu das Artes, Osasco e Campo Limpo, e também em outras regiões do Brasil.
Para a professora Heloisa Buarque de Hollanda, autora do texto de apresentação da obra, “o título deste li-vro diz, literalmente, a que veio. Literatura, pão e poesia. Se ao título juntarmos o autor, o sentido maior do livro se abre diante de nós. O autor é Sérgio Vaz, o escritor cidadão, o poeta ativista. Para quem trabalha com tendências ou fica de olho nos novos horizontes da literatura, não há como não se dar conta da chegada da literatura marginal ou periférica, que veio com força e garra na virada do milênio”, diz a professora, que completa: “O poeta vira-lata, co-mo se autodenomina Sérgio Vaz, percebeu com maestria o poder político da aquisição e instrumentalização segura da palavra e torna essa descoberta um ativismo de inclusão social diário e obstinado. Literatura, pão e poesia fala disso e do entorno desse ativismo. São crônicas, às vezes em namoro com a poesia, às vezes claramente descritivas, quase contos, às vezes um espaço de opinião e indagação.”
Nesta sua estreia em prosa, o poeta da periferia conta também com um texto de posfácio escrito pela pre-miada jornalista Eliane Brum: “Sérgio Vaz é, ele mesmo, o criador daquela que talvez seja a maior poesia viva deste país — o sarau da Cooperifa, na Zona Sul de São Paulo. Mas, neste livro, o poeta se faz cronista para nos trazer em prosa as notícias de um mundo em que ‘os pedreiros constroem casas (alheias) como se fossem (seus próprios) la-res’ — e as domésticas ‘não admitem ser domesticadas’. Notícias de ‘um povo lindo e inteligente que sonha enquan-to faz’. Em sua estreia na crônica, Vaz profana a língua com talento para incluir nela um naco maior de mundo. Tem dedos de navalha para disfarçar a ternura do olhar que afaga as entrelinhas. Nos encanta — e às vezes nos golpeia — com achados de linguagem paridos numa realidade onde as frases têm de ser puxadas pelo pescoço para não morrer de bala perdida antes mesmo de existirem.”