A presente edição da antologia Mar é, relativamente às anteriores, bastante mais exaustiva na selecção de poemas de Sophia que podemos considerar inseríveis numa categoria temática assim designada e constituída. Várias foram as razões de tal alteração.
Em primeiro lugar, convém dizer que foi reconsiderado o critério, que se revelou demasiado restritivo, segundo o qual desta antologia apenas constariam os poemas "em que o elemento marítimo é a principal ou única referência", exactamente porque, conforme referi na «Nota à 1.ª Edição», toda a tentativa de impôr contornos que distingam, num grupo de poemas, os que são claramente inseríveis num determinado tema sofre da incerteza e da irresolução que afectam as tarefas praticamente impossíveis. Por isso, também passou de restritiva a exaustiva a escolha de poemas em que, aparecendo a referência ao mar como motivo secundário, com ela se convoca a vastidão ou o dramatismo próprios às imagens marítimas, cuja presença simbólica, nesta poesia, o poema «Inscrição», aqui colocado em epígrafe, de algum modo, abarca. De facto, esta é uma afirmação com que, lapidarmente, a Autora se definiu relativamente à força da realidade marítíma.
Presidiu, no entanto, à exaustividade referida a preocupação de que esta não agisse meramente como uma espécie de inventário e se colasse à específica complexidade que existe nesta poesia e a partir da qual as imagens marítimas se engendram. Por isso, por exemplo, é maior a presença de poemas em que o elemento marítimo tem uma dimensão metafórica, num movimento de transporte da força desta matéria poética a outras extensões do mundo. Nesta direcção foi alargado o lugar concedido aos grandes poemas que testemunham o encontro efectivo com outros espaços geográficos — Grécia, Oriente — e, com eles, não apenas à presença da convocação de um imaginário correspondente mas também a correspondentes transformações decorrentes desse acontecimento, cuja factualidade obriga a imaginação a redesenhar os seus lugares.
Em segundo lugar convém referir que este alargamento decorre, ainda, da revisão e reedição da obra poética que, ao longo destes quatro anos, foi preparada e iniciada.
Nesta revisão, coube a Luis Manuel Gaspar, a meu convite, o trabalho de investigação com vista à detecção de erros, inventariação de variantes, levantamento de alterações havidas nos vários livros, de edição para edição, assim como a pesquisa, não exaustiva (nenhuma o pode ser), de Dispersos. Coube-me, naturalmente, decidir em aspectos mais delicados de fixação textual, cujos critérios últimos serão explicitados no volume único de toda a obra poética, revista, fixada e anotada, a qual coroará a edição autónoma dos catorze livros de poesia editados por Sophia, agora levada a cabo, de acordo com o projecto por mim proposto a Zeferino Coelho e por ele acolhido com entusiasmo.
Por último, e em terceiro lugar, convém referir que alguns dos poemas agora incluídos fazem parte do referido conjunto de Dispersos, que pela primeira vez estão a ser editados em livro, e cuja detecção se deve, como foi dito acima, a Luis Manuel Gaspar, a quem, por isso, coube, nesta edição, a redacção das notas correspondentes.