A revista Margem Esquerda: estudos marxistas chega a seu oitavo número, com ensaios e textos clássicos do pensamento crítico, fundamentais para a compreensão dos problemas contemporâneos.

Nesta edição, o dossiê temático, coordenado pelo filósofo Paulo Arantes, trata da violência urbana. Na periferia das grandes metrópoles, cresce a quantidade de crianças e jovens órfãos da urbanização, vítimas da violência e da marginalidade. Verdadeiros "excedentes" humanos, são alvos fáceis e permanentes do crime, que se torna parte estruturante da reprodução do capital. Os artigos mostram como a utopia do progresso e do bem-estar transformou-se em seu oposto: proliferam os espaços de insegurança, de violência, de contaminação, de miséria. As relações entre a criminalidade e o modelo social existente, no qual os ricos se protegem - cercam suas casas e blindam seus carros - por iniciativa própria. Privatiza-se até o sistema prisional - para que reprima mais eficientemente. Loïc Wacquant, Laurindo Dias Minhoto e Maria Orlanda Pinassi, entre outros autores, analisam várias facetas do tema. As ilustrações são da artista plástica Dora Longo Bahia, em curadoria de Luiz Renato Martins.

A revista traz também um artigo de Michael Löwy sobre as insurreições de trabalhadores, na Paris do século XIX. Nesta edição, há também: um ensaio de István Mészáros sobre Hugo Chávez; uma análise da obra de Florestan Fernandes, escrita por sua filha, Heloísa Fernandes; um balanço do governo de George W. Bush, escrito pelo dirigente argentino Juan Chingo; além de um texto de Marcia Tosta Dias sobre a crise da indústria fonográfica e sua atuação no bloqueio ao acesso a novas tecnologias. Traz ainda outros artigos, sobre a esquerda na França, o impacto da globalização e a necessidade de se retomar uma leitura dos clássicos.

A Margem publica um abaixo-assinado contra a resolução 1481 do Conselho da Europa. É um protesto contra uma decisão da instituição, que decide, de forma unilateral e burocrática, decidiu banir a expressão "luta de classes" de livros didáticos. Na seção de textos clássicos é recuperado "Cinco maneiras de dizer a verdade", do dramaturgo Bertolt Brecht. Um texto político escrito para circular clandestinamente e combater o regime nazista na Alemanha.

A entrevista deste número é com o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que fala sobre seu trabalho e a relação entre produção teórica e militância política. Ele conta passagens curiosas da sua formação, como suas estadas em Berlim ocidental e na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Fala também do momento das lutas, da importância dos Fóruns Sociais Mundiais e de sua idéia de uma Universidade Popular dos Movimentos Sociais.

A revista também publica o poema "Nós, estrangeiros", do jornalista e tradutor Paulo Neves da Silva. Na seção de resenhas, analisam-se lançamentos como Sobre o suicídio, de Karl Marx, e Trabalho e trabalhadores do calçado, de Vera Navarro.