MARIO CESARINY E ANTONIO TABUCCHI - CARTAS E...TEXTOS
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OBJETO
DE DESEJO
Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por
acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura
Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta,
Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na
Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com
quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970).
Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco
material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura.
Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois
grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com
quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre
maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos.
[Maria José de Lancastre]
Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em
1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o
agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram
reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a
óbvia inteligência de Antonio Tabucchi.
Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final
dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica
a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice-
-versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza
de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar.
[Fernando Cabral Martins]
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