Mesmo o silêncio gera mal-entendidos: antologia 2000-2020 reúne uma seleção de trabalhos de Ricardo Domeneck produzidos nas últimas duas décadas. Sua organização não se deu por livro ou por eixo temático, como tradicionalmente as antologias fazem, mas propõe uma disposição da obra do autor a partir do ano de composição de cada texto. Assim, embaralha as cartas que poderiam ter se fixado como linha evolutiva de seu trabalho, se ela fosse imaginada a partir da leitura consecutiva de cada um de seus livros. Mesmo o silêncio começa por poemas escritos no ano 2000, ainda que estes tenham sido publicados apenas em 2005, no livro de estreia do poeta, Carta aos anfíbios.

Os gêneros literários, que frequentemente são estudados como territórios específicos e estranhos uns aos outros, aqui são recolocados em existências paralelas: convivem lado a lado poemas líricos e textos experimentais e visuais, assim como contos, colaborações com músicos e textos de vídeos e performances.

Entre poemas de seus nove livros e textos dos dois volumes de prosa, o leitor encontrará aqui também alguns inéditos: desde um poema que deveria ter entrado em Carta aos anfíbios, até poemas que formam o ainda inédito O sol ao meio-dia e meia. Para aqueles familiarizados com o trabalho de Ricardo, esta antologia permite outro panorama entre os limiares da tradição e da experimentação. Para os novos leitores, aqui está a oportunidade de conhecer as obsessões do autor através de textos escolhidos por ele mesmo.

Para o projeto gráfico do livro, a designer Giovanna Langone recorreu aos conceitos de silêncio, arquivo, memória e esquecimento, importantes tanto para o trabalho de Ricardo, quanto para o desejo encenado nesta publicação especificamente. Os leitores encontrarão uma pesquisa preocupada com o uso de espaçamentos, de cores neutras e de quebras gráficas.