NO ESPAÇO, COM LYGIA PAPE
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OBJETO
DE DESEJO
Eis que estamos a bordo de uma nave-útero para revisitar um dos capítulos fundamentais do século XX, quando o homem pisou na lua: Veronica Stigger restitui a história do filme de Lygia Pape, La Nouvelle Création, de 1967. A obra em questão é ponto de partida para uma reflexão sobre a conquista do espaço. Stigger se serve de documentos e referências que contextualizam a criação do filme de Pape. A autora nos move por uma imaginação cósmica segundo a qual não é apenas a ideia de um novo homem que surge, mas de um mundo que emerge a partir desse acontecimento.
No século XX, a corrida pelo espaço se situa sobretudo entre americanos e soviéticos, acirrando uma disputa polarizada pela imaginação global. Em Vista da Lua (1970), Günther Anders descreve uma luta concreta pelo poder planetário. Seu livro foi escrito no calor da hora, entre 1962 e 1969, ou seja, entre os primeiros homens em órbita no espaço e a decolagem do Apollo 11. Sob o efeito dessa disputa, diversos artistas encontraram nos cosmonautas formas de entrar em órbita no espaço dos signos. Além disso, tantas viagens à lua marcam uma paisagem nascente: o espaço midiático. A ubiquidade, essa qualidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo, firma uma nova história da humanidade documentada por uma linguagem de canais de televisão, rádios e jornais.
O espaço lunar ganhou manchetes e corações humanos: “A conquista espacial era um espetáculo público, acompanhado por todos desde o lançamento do primeiro satélite, o soviético Sputnik, em 1957”, escreve Stigger. Embora já se tenha sonhado e escrito sobre a lua durante séculos – desde os desenhos de Galileu, dos sonhos de Kepler, passando pelas óperas que encenaram essa utopia, e até
as origens do cinema, com Méliès –, as cores e as sensações de uma época são restituídas brilhantemente neste ensaio. Como mostra
a autora, ao invés de ter ficado marginal na produção de Pape, La Nouvelle Création desempenhou um papel fundamental na obra da artista, sendo um marco no seu processo de criação. Ela não estava sozinha. Conquistou, junto com outros artistas e teóricos, uma
imaginação do espaço. Espaço, historicidade e imaginação fazem parte de uma trama muito bem tecida por Veronica Stigger.
Eduardo Jorge de Oliveira
Coordenador da coleção Peles Inventadas
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