Bela aula de história!
Alcir Santos de Oliveira
Romance baseado em fatos históricos, uma excelente aula sobre aspectos do processo de escravidão aqui no Brasil. A partir de um crime ocorrido no Rio de Janeiro e o local onde o corpo foi jogado, estabelece uma série de ligações entre os diversos países africanos, fornecedores de escravos, e o Brasil. Destaca a importância histórica do Valongo não só porque ali eram desembarcados os cativos, como também pelo cemitério de covas rasas onde eram sumariamente atirados os que morriam ao chegar.
O texto oferece muito mais. Graças a uma mistura bem dosada de misticismo e fatos, o leitor acaba sendo levado a uma viagem por vários mundos, sempre focado na estúpida realidade do escravismo, das lutas tribais e o tratamento dispensado pelos donos aos seus escravos. Nesse aspecto o livro oferece momentos terríveis. Mas é bom não esquecer algumas partes que deleitam o leitor, como a em que descreve a criação do homem pela Grande Mãe, Nipele (o seio que alimenta). O enredo, em si, é simples. Narrado, alternadamente, por dois personagens, o mestiço, jornalista Nuno Alcântara Moutinho e pela escrava Muana Lomuê, alfabetizada, leva o leitor a viajar pelo mundo real do Rio de Janeiro de antanho, por recantos da África, passando por uma dura descrição da travessia feita por um navio negreiro, as condições de vida a bordo e o tratamento dado a vivos e mortos pela tripulação. Para completar, a magia dos pratos da cozinheira Roza e das colchas-mortalhas tecidas com vagar por outro escravo, Marianno. No final os três conseguem o status de libertos.
Sem dúvida um livro imprescindível para quem se interessa por boa literatura e tem interesse na história real do Brasil.
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