Uma mulata forra não aceita os galanteios de um homem branco e reage a pedradas; um grupo de africanos retorna ao Brasil para se dedicar ao comércio, mas é mandado de volta à África; um delegado de polícia fica aflito por ter de devolver uma escrava “quase branca” ao seu proprietário; clubes carnavalescos de negros “inventam a tradição” e levam à rua imagens divergentes de uma África que desconhecem.

Com esse mosaico de episódios sem conexão direta entre si, narrados com sabor e sabedoria, a historiadora Wlamyra Albuquerque mergulha em documentos das três últimas décadas do século XIX para mostrar como o longo processo da emancipação dos escravos no Brasil foi marcado por uma profunda racialização das relações sociais, levada a cabo por diferentes atores e instituições, desde lideranças abolicionistas e republicanas até libertos africanos e adeptos do candomblé.

Num exercício historiográfico inteligente e sofisticado, a autora opera uma análise fina, que foge dos reducionismos para dar consistência ao debate e abrir um leque de novos argumentos.