A obra de Andrei Tarkovski é uma tentativa de compreender o funcionamento da vida e do espírito dos homens. Basta lermos Os Diários, livro também publicado pela Editora É, para notarmos que vida e arte, tanto para ele como para muitos artistas, estão visceralmente entrelaçadas na experiência humana diante do mundo. Ou seja, a arte passa a ser uma extensão da vida e vice-versa.

Nascido em Moscou, filho do célebre poeta Arseni ­Tarkovski, Andrei estudou música, pintura e língua árabe na infância e na juventude. Só aos 24 anos começou a se interessar por cinema. Aprendeu o novo ofício com ­Mikhail Romm (Lenin em Outubro) na Escola de Cinema de Moscou, onde produziu o média-metragem de conclusão do curso, O Rolo Compressor e o Violino (1960).

Quanto ao tema deste O Sacrifício, romance e roteiro que agora trazemos ao público brasileiro, Tarkovski tinha uma compreensão forjada em muitos anos de interesse por esse ato incomum. Eis uma de suas explanações sobre o assunto: “O amor é sempre uma oferta de si para os outros. Embora as palavras ‘sacrifício’ e ‘sacrificial’ pareçam ter um sentido negativo, destrutivo, porque estão relacionadas à pessoa que se sacrifica, a essência desse ato é sempre o amor, isto é, um ato positivo, criador, Divino”.

Lançado no Festival de Cannes apenas seis meses antes da morte de Tarkovski, O Sacrifício já foi chamado de o último testamento do seu criador. O cineasta russo trabalhou nesse filme até sua finalização, sabendo que tinha câncer terminal, e dedicou a obra ao seu filho: “com esperança e confiança”.

Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1986, venceu em quatro categorias: Grande Prêmio Especial do Júri, Prêmio da Crítica Internacional, Prêmio pela Melhor Contribuição Artística e Prêmio do Júri Ecumênico. Pela primeira vez na história do Festival, um único filme foi vencedor de quatro prêmios. Em 1988, foi premiado pelo Bafta na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. É a partir desta obra que a Editora É inicia uma série de publicações dos roteiros deste que é consagrado como um dos maiores criadores da arte cinematográfica de todos os tempos.