Em comemoração ao centenário do western no cinema, a Rocco lança a Coleção Faroeste, de Elmore Leonard. Reunindo oito dos mais importantes faroestes do autor, a série mostra, pela primeira vez, ao público brasileiro que Leonard é um verdadeiro mestre em dois gêneros.
O envolvimento de Leonard com a literatura surgiu aos dez anos de idade, quando começou a devorar livros baratos sobre caubóis e índios. Desenvolveu, dessa forma, suas paixões pela escrita e pelo faroeste – gênero que até hoje continua sendo o seu preferido. Em pouco tempo, publicou vários contos em periódicos como The Saturday Evening Post e vendeu dois argumentos para o cinema. Foi só em 1953 que lançou seu romance de estréia, Os caçadores de recompensas. Durante a década seguinte, escreveu mais quatro livros: The law at Randaldo, Escape from Five Shadows, Last stand at Saber River e Hombre.
Hombre acabou por se tornar o principal marco na carreira do escritor. Adaptado para o cinema pelo diretor Martin Ritt e estrelado pelo galã Paul Newman, o filme se tornou um grande sucesso de bilheteria e levou à independência financeira e artística de Elmore Leonard. Curiosamente, seu passo seguinte foi uma primeira investida no policial, The big bounce. Não deixou, porém, o western de lado. As décadas de 60 e 70 trouxeram alguns dos melhores faroestes de Leonard, como Valdez vem aí, Quarenta chibatadas menos uma e Na mira da arma.
Foi a partir dos anos 80, com o western entrando em declínio comercial, que Elmore Leonard resolveu se voltar totalmente para o romance policial. De lá para cá, reviveu seu gênero de origem apenas em Cuba Libre, de 1998. Mas, mesmo que muitos leitores não saibam que a primeira encarnação literária do escritor vestia chapéu e botas de vaqueiro, a época western de Leonard não carece de prestígio. Hombre foi eleito pela Western Writers of America como um dos maiores faroestes de todos os tempos e Quarenta chibatadas menos uma é um dos livros de cabeceira do diretor Quentin Tarantino, que tem planos de em breve levar o livro às telas de cinema.
A verdade é que os westerns de Leonard não são tão diferentes assim dos policiais. Ambos os estilos são marcados por histórias sobre homens durões em busca de justiça em uma terra de ninguém e, especialmente no caso de Leonard, textos temperados com diálogos afiados e muita ironia. Elmore Leonard não se prende a um só gênero: o que une suas obras é a qualidade que nem mesmo o mais valente caubói ou o mais perspicaz detetive é capaz de contestar
OS CAÇADORES DE RECOMPENSAS
Elmore Leonard
Coleção Faroeste
Consagrado como um dos grandes nomes da literatura policial contemporânea, o americano Elmore Leonard só começou a maquinar tramas povoadas por detetives e mafiosos após décadas de carreira. Seus trabalhos mais antigos são exemplares clássicos de western, gênero por onde circulam xerifes e pele-vermelhas. Mas, mesmo na época em que preferia os combates a cavalo às perseguições em automóveis, Leonard já era dono de um marcante estilo. O primeiro romance escrito por ele, Os caçadores de recompensas, publicado originalmente em 1953, já exibia o seu talento para criar textos enxutos e repletos de personagens muito bem elaborados.
A história de Os caçadores de recompensas tem início quando o ex-militar David Flynn, após retornar com as mãos vazias da corrida do ouro em Sierra Madre, aceita uma tarefa quase suicida: ir até a fronteira dos Estados Unidos com o México e capturar o hostil chefe dos índios apaches, Soldado Viejo. O tenente Rod Bowers, um rapaz sonhador e inexperiente, é convocado para liderar a expedição. Acompanhados apenas de suas espingardas, os dois atravessam o Rio Bravo e seguem pelo árido trajeto entre o Arizona e a cidade mexicana de Soyopa.
No entanto, a obrigação profissional acaba se transformando em uma questão pessoal. Já perto do término do percurso, a dupla se surpreende com três carroças queimadas e vários cadáveres escalpelados. Flynn logo reconhece os corpos como sendo da família de Hilario Estebán, seu grande amigo no México. A pergunta: quem cometeu aqueles assassinatos? Tudo leva a crer que tenha sido obra de alguma sangrenta tribo de apaches, porém o faro e a vivência de David Flynn alertam que há algo de muito errado por ali.
Suas desconfianças se concretizam no momento em que Flynn e Bowers chegam a Soyopa. Quem manda no lugar é o teniente Lamas Duro, controlando a população através da violência praticada pelos rurales – a polícia da fronteira. Além disso, Duro mantém uma relação escusa com o fora-da-lei Curt Lazair e seu grupo de caçadores de recompensas que, para obter o dinheiro que o governo oferece em troca de escalpes de apaches, são capazes de matar até mulheres e crianças brancas. Afinal, com um pouco de graxa é possível fazer com que qualquer cabeleira se pareça com a de um indígena... David Flynn percebe então que os conflitos podem emergir de todos os lados, inclusive de suas próprias costas.
Longe dos estereótipos do faroeste, onde os caubóis são sempre os mocinhos e os índios são vistos como vilões, Elmore Leonard cria antagonistas que não estão limitados a uma só etnia – aparecem na forma de apaches, mexicanos e americanos. Sem precisar lançar mão de qualquer tipo de maniqueísmo, o autor consegue fazer de Os caçadores de recompensas um western de qualidade, com os altos índices de ação e suspense que qualquer grande obra da categoria demanda.