A história pouco conhecida dos retornados, os “brasileiros na África” que voltaram ao seu continente levando consigo influências da cultura brasileira que sobrevivem na culinária, nas celebrações, na religião e no cotidiano de diversas famílias em países como Togo, Nigéria e Benim.



Em Os retornados: A história dos ex-escravizados que deixaram o Brasil e formaram comunidades afro-brasileiras no golfo do Benim, Carlos Fonseca nos conta sobre os retornados, escravizados libertos e seus descendentes que retornaram à África, voluntariamente ou obrigados — deportados da Revolta dos Malês, por exemplo —, em um movimento que se iniciou a partir de 1835 e se estendeu até o século XX. São os tabons, de Gana, os agudás, do Benim, e tantos outros em países diversos do continente africano.

O autor analisa as motivações por trás dessa decisão e os desafios enfrentados por aqueles que embarcaram nessa jornada de retorno à África. Nestas páginas, Carlos Fonseca nos apresenta a personagens fascinantes, cada um com sua jornada de autodescoberta e reconexão com a terra de seus antepassados, muitos em busca da cidadania que o Brasil tanto lhes negava. São muitas as complexidades históricas, culturais e sociais que envolvem esse movimento de retorno, e o autor nos oferece relatos que nos ajudam a entender essa relação tão delicada entre os retornados, seus descendentes e o Brasil.

Os relatos pessoais e entrevistas revelam as nuances da experiência afro-brasileira na África. Da busca pelas raízes ancestrais perdidas à adaptação a novos contextos sociais e culturais, as histórias contadas neste livro tratam de questões de pertencimento, legado e identidade.

No entanto, Carlos Fonseca também nos mostra a outra face dessa história: a falta de interesse das gerações mais jovens na preservação do legado brasileiro na África. Gerações que resistem a se identificar com esse legado que se formou sobre as bases da escravidão, com ancestrais que foram tanto escravizados como escravizadores. Desde o apagamento de sobrenomes brasileiros à ruína de prédios construídos por mãos afro-brasileiras, aos poucos essa herança vai se apagando, embora ainda haja esforços para mantê-la.

Dessa maneira, Os retornados traz um olhar aprofundado sobre o fenômeno do retorno de africanos e afro-brasileiros à África e serve como um lembrete poderoso da resiliência e da determinação humanas em busca de conexão e pertencimento verdadeiros. É uma leitura indispensável para aqueles interessados na diáspora africana e nas complexas interseções entre identidade, história e migração.

“Este livro tem um sentido de urgência. Sua leitura é não apenas uma tarefa prazeirosa, pelo estilo agradável, talentoso e fluido do autor, mas também uma necessidade premente, de captar um pedaço da história e da cultura brasileiras que rapidamente se desvanece no tempo e no espaço de outro continente.”

Do prefácio de Laurentino Gomes.