“(...) A narrativa que Leandro Müller nos oferece neste livro é capaz de produzir um grande entusiasmo ao lê-la, é brilhante, é vertiginosa, tem um impressionante ritmo e consegue uma evocação visual capaz de gerar múltiplas imagens em muitas ocasiões surrealistas. As frases curtas refletem os pensamentos do narrador, pensamentos que se constituem, em muitas ocasiões, em aforismos vitais, às vezes perigosos, que contribuem para o pulsar do romance. As palavras neste romance estão carregadas de energia, são, e recorro agora ao imaginário de Wyndham Lewis e de Ezra Pound, como um vórtice: as palavras que compõem um sistema de energia que encontra seu ponto central no narrador do Tratado como um gerador de um discurso capaz de arrastar, e acelerar (e engolir) a tudo aquilo que está ao seu redor. Desta possível implicação exagerada, irreversível e sem remédio do leitor no discurso mental do narrador, capaz de mudar sua estrutura de pensamento para sempre, se encarrega de advertir o próprio autor em seu prefácio a edição espanhola, transportando-nos com essa advertência dos perigos que acarreta a leitura do livro ao universo de Lautréamont, a quem este romance rende uma contínua homenagem desde o primeiro momento. Não em vão, Maldoror é um dos três personagens a quem está dedicado o livro. (...)

(...) Pequeno Tratado Hermético sobre os Efeitos de Superfície é, portanto, uma grande obra e tem mil razões porque deveria ser lida: está brilhantemente escrita, é inteligente, mordaz, tem humor (negro), sua leitura nos prende desde a primeira frase e nos convida à reflexão, nos confronta como leitores a nossa própria maneira de entendermos a nós mesmos e de entender a vida e o mundo, algo que é, afinal de contas, uma das funções mais essenciais da boa literatura.”