POEMA VISUAL AO OBJETO- POEMA, DO: A TRAJETORIA...SA
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OBJETO
DE DESEJO
Em décadas de trabalho, a artista plástica carioca Neide Sá conseguiu a proeza de manter-se inquieta e inovadora: sempre procurou caminhos e formas de expressão experimentais. Fiel ao rigor formal da geometria em suas obras autorais e também, em alguns momentos, propondo performances coletivas, abertas à participação do público. Ela começou sua trajetória como arte-educadora de crianças, estimulando os sentidos sensoriais dos infantes e adquirindo gosto pelos processos criativos abertos à livre intervenção de cada indivíduo.
Em seguida, ela se tornou uma das fundadoras do movimento do Poema/Processo, que utilizava signos visuais ao invés de versos construídos com palavras. As palavras, quando presentes, eram apenas legendas explicativas de códigos semióticos arbitrários, que davam pistas de leitura ao observador. Uma forma de expressão revolucionária na época, que durou de 1967 e 1972 e fazia o poema nascer da interpretação do leitor, transformado em coautor no ato de leitura. Num desdobramento natural, Neide se dedicou a poemas visuais gráficos, na síntese do preto e branco, pelo puro prazer da forma. Ao mesmo tempo, realizou seu antológico projeto A CORDA, na qual o público podia pendurar livremente fotos e manchetes de revistas e jornais da época. Uma obra aberta, no melhor sentido preconizado por Umberto Eco.
Ao descobrir possibilidades lúdicas no laboratório de fotografia, desenvolveu sua série Poemãos, em que o principal elemento visual era a projeção da mão da própria artista sobre o papel fotográfico. As brincadeiras na câmera escura também originaram sua série Fotogramas, experimentações com retículas, sombras de objetos transparentes e formas geométricas. Na sequência, ela passou a elaborar livros de artista, artefatos sem palavras, realizados a partir de recortes de formas geométricas e papéis de diversas cores. Nessa época ela havia descoberto o Tan Gram, quebra-cabeças chinês que possibilita criar figuras de homens e animais a partir de sete peças: cinco triângulos, um quadrado e um paralelogramo. Só que Neide utilizava as formas geométricas em estado puro, sem qualquer referência icônica. Foi assim que seus livros de artista conquistaram grande reconhecimento no Brasil, na Itália e na Argentina. Um estudioso do tema, Paulo Silveira, deu a Neide um merecido destaque em sua obra A página violada – da ternura à injúria na construção do livro de artista, publicada pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2001, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.
Interessada pela visualidade em suas múltiplas facetas, Neide fez trabalhos que eram mergulhos na arqueologia do grafismo e também na diversidade dos signos visuais criados pela humanidade desde o tempo do homem das cavernas. Neide também criou objetos cinéticos e objetos interativos, cuja forma geral fica nas mãos do observador, que pode deslocar elementos visuais que aderem ao suporte por magnetismo. Dedicou-se ainda à pintura texturizada, plasmada na tela com areia e cola, sempre obedecendo a uma malha de formas geométricas rigorosamente arquitetadas e de acabamento técnico impecável. E também se aventurou pelos caminhos da vídeoarte, amarrando câmeras em seus pés para registrar imagens próximas ao solo e que eram exibidas em duas telas simultâneas.
Seu trabalho mais recente é Ciclo Infinito Vida/Morte, na qual ela utiliza a célebre Fita de Moebius como metáfora do processo universal de criação/destruição. Neste livro publicado pela Editora Lacre, com patrocínio da Vale, o crítico Mário Margutti sintetiza os momentos mais relevantes de uma artista fecunda, que sempre gostou de praticar o contraestilo, ou seja: nunca repetir a si própria e nunca decair nos clichês ou nas fórmulas visuais fáceis.
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