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OBJETO
DE DESEJO
Primeira compilação da singular obra poética de António Sardinha.
«Cedo tocado pelos prenúncios de uma vocação de ‘homem de letras’, António Sardinha viveu os seus anos juvenis, no Alentejo e em Coimbra, como tempo de aferição de desígnios e de recursos
pessoais para realizar condignamente tal vocação, acalentada por Eugénio de Castro. Ao adoptar pro tempore o legado do esteticismo decadentista, afinal evitava os pendores então prevalecentes no campo
literário português – elementos evolucionistas, valores vitalistas, compromissos emancipalistas, tendências libertárias – por onde até Afonso Lopes Vieira e António Corrêa d’Oliveira se transviavam, antes de na
transição para o período da República demo-liberal retomarem a estrada real do Tradicionalismo franciscano e lusíada.
» Nesta opção decisiva os acompanhou António Sardinha, com ambos passando a ombrear entre as referências maiores da corrente lusitanista do Neo-Romantismo. Senhor da diferença específica da sua
personalidade literária, Sardinha tempera com o idealismo crítico de Manuel da Silva Gaio a fina sensibilidade artística do trovador Lopes Vieira, ‘preceptor seguro da sensibilidade portuguesa’; e oferece uma
alternativa de conotação doutrinada e de castigada expressão formal aos abalos afectivos de difíceis transes existenciais, às efusões rústico-patriarcais e aos aforismáticos lances político-religiosos de Corrêa
d’Oliveira. Aliás, o bardo de Chuva da tarde e de Pequena casa lusitana também melhor preservava essa corrente tradicionalista de contaminações pelos sortilégios visionários da imaginação especulativa de
Pascoaes e de certo Saudosismo.
» Pelo caminho, a tópica pessimista e o estilo do esteticismo decadentista, que António Sardinha cultivara nas suas primícias dos alvores do século xx, resgatam-se na depurada dicção e na densidade
humana da sua maturidade poética. Então, a sua arte lírica culmina em versos soberanos como “ó calada voz do nocturno espanto”, ao passo que outros, maxime na mitografia de Roubo de Europa, dão súmula
paradigmática à insígnia apostólica – “ó madre antiga dos destinos novos” – que, por translação, António Sardinha podia atribuir à Igreja católica, à Pátria lusíada e à Monarquia portuguesa.
» Assim, se pela crónica combativa e pelo ensaio militante de revisionismo histórico e de proposta ideológica António Sardinha se afirmou como grande figura de intelectual orgânico, mas de espírito livre e
discurso alodial, também pela sua criação poética se impôs como alto nome do cânone neo-romântico.
» Nessa extensa e intensa obra lírica, uma e outra vez os seus versos nos fazem sentir e nos levam a entender a profunda e alta concepção que um dia assumiu: “A Poesia é a libertação da nossa
existência subliminar – existência rumorosa e obscura, pela qual nos ligamos à continuidade imortal do ser.”» -- do Estudo/Posfácio, de José Carlos Seabra Pereira
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