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OBJETO
DE DESEJO
Todos os saberes e práticas têm base teológica e vocação religiosa. Esta é a constatação da psicanálise quando trata o Inconsciente em termos de Arreligião, afirmando que é possível um regime analítico da religião como abstração.
O princípio de Arreligião integra as teses NovaMente há pelo menos uma década: indica a psicanálise como A religião propriamente dita em seu estrato abstrato – donde o artigo definido –, e, por essa razão, a evidencia como o exercício de suspensão dos conteúdos figurativos de qualquer religião – donde o prefixo de negação.
Duas proposições se desdobram ao longo do livro: o Inconsciente é “religioso” e “cínico”. É religioso, pois o movimento pulsional, sendo transcendentalista, pode acolher e, ao mesmo tempo, indiferenciar qualquer conteúdo que se lhe apresente como regente dos demais. Essa chave de leitura é explorada nos temas da liberdade como condenação só-depois; do estatuto do sagrado e o entendimento que daí se extrai do que seja poder (genericamente teológico por vocação e religioso por decadência); da economia pulsional como eixo fundamental da psicanálise no sentido da dissolução dos aparelhos religiosos, sejam eles científicos, políticos, institucionais e, por que não?, psicanalíticos.
Mas o Inconsciente também é cínico. Mostra-se, então, que o vetor de esclarecimento (portanto analítico) de todo cinismo ao mesmo tempo indica o ressentimento contemporâneo advindo dessa mesma iluminação, pois, desde Freud, sabemos da defesa e resistência que se é capaz de erguer contra a análise. Donde a tese do cinismo como creodo (caminho obrigatório) para a instalação de um novo sintoma, mais adequado à vocação indiferenciante da Mente. Psicanálise como Arreligião é, nesse sentido, exercício de desconfiguração e vontade de esclarecimento.
Então, o que pode situar a função analista no mundo? Em última instância, sua postura. É o que nos ensina este Falatório, colhendo nas exemplaridades de Mestre Eckhart, do pensamento Zen, de Diógenes, Sócrates ou Cézanne, não apenas uma linhagem que redefine o percurso de Freud e Lacan, como principalmente a indicação de que o exercício perene de afastamento das formações sintomáticas é condição de formação e operação do analista.
Articulam-se ainda a essa orientação questões como: a competência da tecnologia e do capital no deslocamento sintomático, em vetor cada vez mais abstraente; o “mito do Sujeito”; e a polaridade Grécia/China, aqui tratada em proximidade com o estudo dos estilos Clássico, Maneiro e Barroco.
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