Termos como literatura do absurdo, fantástica ou realismo mágico são empobrecedores. Breton havia observado que implicamuma separação do que seria real, natural, portanto verdadeiro, e do irreal, portanto falso. Prefiro designar o que Afonso Henriques Neto nos apresenta como literatura total, absoluta. Aquela que ultrapassa distinções entre os gêneros e correntes. Pode ser relavcionada, entre outras referências importantes, a Os vasos comunicantes de Breton, pela dominância do acaso sobre a casualidade. E pela afirmação da continuidade de sonho e vigília, nas palavras de Afonso Henriques: "Tudo é sempre igual a um sonho, mesmo se a tal realidade estiver berrando no ouvido. Pois me diga de verdade: qualquer coisa que você arranque da memória não irá chegar sempre na forma disforme disforme de um esbatido sonho no centro de uma ventania de vaga matéria em sabor tanta vez opaco? A tal matéria de sonhos de que somos feitos?"