Cada trabalho de Lygia Fagundes Telles é, para ela, um desafio intenso em que a inquieta, insatisfeita, persistente e paciente escritora se lança com paixão. Seminário dos ratos é, assim, o resultado de dois princípios básicos da vida da escritora: o da sedimentação de experiências literárias e do risco a cada novo empreendimento intelectual. O livro reúne 14 contos que nasceram dessa obstinação de Lygia, de um árduo trabalho de pesquisa em que a autora desejava expressar-se, em cada conto, de uma maneira diferente e queria encontrar a forma mais adequada para dizer o que precisava.
No conto que dá título ao livro, ratos entram pela cozinha fazendo um barulho esquisito. Só quem tem ouvido bem apurado é que pode perceber que algo estava acontecendo naquela casa de campo onde várias autoridades iriam realizar o VII Seminário dos Roedores. O seminário não se realiza e a casa é ocupada pelos ratos que devoram os homens deixando um único sobrevivente.
Em outro conto, "A Saura", um homem é retratado como o típico brasileiro tradicionalista, egoísta, patriarcal que contesta a mulher, engajada no movimento feminista. Em "As formigas", Lygia narra a história de duas estudantes que se hospedam numa estranha pensão e encontram um caixote cheio de ossos. Esse é o conto predileto da autora, que beira o realismo fantástico.
E é assim que os ratos, as formigas, os homens e mulheres de Lygia se apresentam para o leitor. Como símbolos, metáforas, com os quais a autora, defensora dos movimentos reivindicatórios dos direitos da mulher, vai fazendo a defesa e a doutrinação do movimento feminista através, justamente, de sua contestação.
O resultado é uma obra de rara beleza, verdadeira metáfora da vida em que Lygia Fagundes Telles, em seu estilo único de escrever, exalta a sua crença na sobrevivência do ser humano sobre todos os obstáculos. Seus textos giram em torno de temas que a envolvem desde que começou a escrever, como a solidão, o amor, o desamor, o medo, a loucura e a morte.