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OBJETO
DE DESEJO
Nesse poemário, Patrícia Lavelle se empenha mais uma vez na busca que vem singularizando sua escrita – a da experiência da linguagem como construção de imagens pensativas – aquelas que, tensionando representação e criação, visualidade e reflexividade, convidam a um outro modo de percepção e compreensão das coisas. Tal empenho se concretiza já no título do livro: suas sombras longas constituem uma ironização da alegoria platônica da caverna, num reinvestimento da reflexão sobre as relações entre visão e pensamento. Inscritas agora num movimento de jogo sobredeterminante e aberto portanto à indeterminação, entre sensação, percepção, memória e imaginação, elas contaminam a pureza outrora atribuída ao discurso filosófico-conceitual sobre a verdade.
Articulando o semântico ao semiótico, a visualidade à sonoridade e ao deslocamento, chama a atenção o caráter performativo de palavras, imagens e pensamentos. Estes, em sua mútua afetação, focalizados muitas vezes narrativamente, enquanto produção contínua, descontínua e hesitante, nos transportam do mito à filosofia e à poesia, através de mãos, vozes e línguas várias. Desde Filomela e Penélope a Safo, Artemísia Gentileschi, Orides Fontela e Adília Lopes, entre outras, vão emergindo as muitas referências femininas que, desentranhadas de um cânone masculino – também representado por pintores, poetas e pensadores – habitam a poesia de Patrícia. Essas referências se constituem simultaneamente em presença e vazio, origem e vertigem como indicam os poemas iniciais, dedicados às mãos positivas e negativas gravadas nas paredes ditas pré-históricas da gruta do Vale do Río Pinturas, na Patagônia e muito tardiamente identificadas como femininas. Em sua diversidade e fragmentação compõem como que uma base metonímica para a imagem dos corpos, bem como para o corpo dos poemas e, a partir dela, para o transporte e a metamorfose metafóricos, por entre diferentes espaços e tempos, então desierarquizados. A poesia encena desse modo uma dramatização da subjetividade como efeito de um gesto inacabado que reativa o simbólico e o cognitivo da experiência da vida e do pensamento e implica simultaneamente uma ética e uma política amorosa e crítica.
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