Desde a primeira frase – “A Inglaterra mudou.” –, UMA MARGEM DISTANTE aborda temas caros aos nossos dias, como migração e diferenças sociais. “Hoje é difícil dizer quem é daqui e quem não é. Quem faz parte e quem é um estranho. É perturbador.”
Ambientado em uma pequena vila ao norte da Inglaterra, o romance de Caryl Phillips desenha a vacilante amizade entre um homem e uma mulher, solitários a sua maneira e superficialmente diferentes entre si.
Dorothy tenta sobreviver ao fim de um casamento de três décadas, uma relação obsessiva que azedou com o tempo. Aos 55 anos, a professora de música não absorve as mudanças do sistema educacional britânico, uma transformação que a leva a aposentadoria prematura. Entre aulas particulares para adolescentes entediados e consultas ao médico, ela tenta juntar os cacos de sua vida.
O homem do chalé ao lado parece preocupado em esconder seu passado sob uma fachada de maneiras impecáveis. Não está perfeitamente claro por que Solomon mora na vila, mas sua origem sugere uma história complexa, que nada tem a ver com a rotina de lavar o carro e fazer pequenas viagens até o supermercado. Embora tudo o que ele tenha em comum com a Inglaterra seja a língua, logo se torna claro que Solomon espera que seu novo país lhe proporcione um porto seguro, no qual possa desfrutar do comportamento condizente com os hábitos ingleses.
Aos poucos, Solomon e Dorothy vão tecendo uma relação estreita. A presença do outro alivia o isolamento que sentem. Uma amizade, aparentemente improvável, serve como um estável abrigo psicológico, nem que isso signifique ir de encontro à mesquinhez dos habitantes do lugar.
Com UMA MARGEM DISTANTE, Caryl Phillips firma-se como uma das vozes literárias mais participativas da atualidade, comparado a autores como Zadie Smith e Kazuo Ishiguro. Uma obra-prima, na qual o leitor é convocado a transportar-se a uma Inglaterra em constante mutação, à medida que o mundo a sua margem imiscui-se em suas fronteiras.

Caryl Phillips nasceu na ilha caribenha de São Cristóvão e atualmente vive entre Londres e Nova York, onde leciona na Universidade de Colúmbia. Já escreveu para televisão, rádio, teatro e é autor de três livros de não-ficção e sete romances. Uma margem distante ganhou, em 2004, o Commonwealth Writers Prize, um dos mais importantes prêmios literários de língua inglesa.