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OBJETO
DE DESEJO
Uma vez in Europa é o segundo livro da trilogia Into their Labours, da qual fazem parte Terra nua e Lilac and flag. John Berger, vencedor do Book Prize de 1972, a exemplo da obra anterior também aborda nesta o cotidiano de uma comunidade rural nos Alpes do sul da França, através de contos e poemas, por vezes interligados entre si, sobre uma classe em extinção: os camponeses.
O escritor e crítico de arte vive praticamente recluso com sua família numa pequena aldeia nos Alpes franceses, próximo a Mont Blanc, desde 1962. A região serve de inspiração para ele render uma homenagem à sobrevivência de personagens camponeses num mundo globalizado. Solidão, frustração, saudade e resistência ao progresso, na sua acepção capitalista, estão nos contos e poemas. A pressão da modernidade e suas influências nas relações familiares, no sexo, morte e aprendizado infantil são expostas nos pequenos dramas de pessoas isoladas nas suas crenças e fazendas.
O cotidiano camponês emprestou a Berger um estilo de narração direto, franco, de períodos curtos e imagens fortes, onde a natureza e sua imprevisibilidade são elementos que configuram o cenário rural, por vezes reconhecido pela tradição e, por outras, combatido pelo anacronismo. A agressividade de um mercado competitivo encontra resistência nos hábitos simples e no caráter orgulhoso dos camponeses, e este conflito é retratado por Berger com lirismo, ternura e delicadeza. A Europa do homem do campo será em breve apenas uma lembrança nostálgica vencida pelo progresso ou a força desse povo é capaz de suportar as mudanças?
Félix, personagem central de O tocador de acordeom, vive preso entre o passado e o futuro após a morte da mãe. Suas perspectivas são anuladas quando ele se vê sozinho em sua remota fazenda. Boris está comprando cavalos é uma fábula sobre a obsessão. As demais histórias também unem sentimentos como amor e desilusão sob um mesmo prisma. Berger evoca a palavra sobrevivência para render uma homenagem à classe agropastoril européia, pressionada pela velocidade do mundo moderno, desconfiada dos avanços científicos, determinada a manter-se isolada como forma de autoproteção.
No conto que dá nome ao livro, o autor expõe o dilema de render-se às exigências capitalistas ou manter-se fiel aos costumes, na figura do pai que rejeita a idéia de que o filho trabalhe em uma fábrica de extração de manganês em Paris e se recusa a vender sua propriedade para ceder lugar à indústria. Decididamente, os tempos são outros, mas o velho homem persiste no seu modo de vida, dedicando-se às suas hortas e crenças inabaláveis.
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