UM LEGÍTIMO kADARÉ.
Alcir Santos de Oliveira
O livro é bom, sim. Mas não espere encontrar um novo Abril Despedaçado. Isso não. Afinal praticamente nenhum artista consegue manter o mesmo nível elevado em todas as suas obras. Entretanto, é bom ressaltar, tal assertiva não implica dizer que este não é um livro muito bom. Muito pelo contrário. Tem a marca de Ismail Kadaré fato que já indica a leitura. Atrai e prende o leitor,primeiro porque ocorre em dois momentos da história recente da Albânia, parte do enredo na ditadura de Enver Hoxa e outra no logo após, no processo de caça as bruxas.
No estilo que o consagrou, o autor mistura, em doses exatas, o seu humor corrosivo, algumas boas pitadas de suspense, guardando um ritmo bem cadenciado, além de outras tantos de romance, sem faltar algumas doses de história e geografia daquela parte da Europa. O personagem-título é um jovem interiorano cujo sonho é ser ator, mas acaba convocado para servir às forças armadas num balneário fronteiriço com a ilha de Corfu, na Grécia, por onde, nos verões, os jovens buscam fugir da Albânia. Ali vive, numa só estação, uma história de vida que vai do paraíso ao inferno.
No mais,tem-se tudo que não pode faltar na obra de Kadaré, críticas ao sistema ditatorial, expurgos, medo, covardia e mais todos os ingredientes que compõem a vida das sociedades onde a liberdade é apenas uma palavra sem maior sentido.
Não perca tempo, leia porque você vai gostar, ainda mais que a tradução de Bernardo Joffily é, como sempre, correta.
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